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17 de nov. de 2010

O IMPORTANTE É TER AMIGOS ! RS (para descontrair)

Pelo traço é do grande Quino. Feito na Argentina mas não poderia ser mais brasileiro.
O importante é ter amigos
Eu preferi traduzir um pouquinho diferente do original que é “Lo importante que es tener amigos”.

16 de nov. de 2010

Coluna: D. Eusébio Scheid




A busca da perfeição

CARDEAL D. EUSÉBIO OSCAR SCHEID
Arcebispo da Arquidiocese do Rio de Janeiro
Abordo, nesta semana, o tema da busca da perfeição. Não se trata, aqui, da perfeição no sentido meramente humano, como realização pessoal, mas da perfeição de cunho antropológico, existencial, iluminada pela Palavra revelada. Trazemos em nós essa busca, como uma espécie de instinto, um impulso vital, que se orienta para o melhor, e se determina, em seu vértice, pelo desejo de felicidade perene. Mas, esta felicidade só nos será garantida se trilharmos o caminho da perfeição.
O grande filósofo Sócrates, do século V antes de Cristo, afirmava que cabe à sabedoria orientar a busca da perfeição. Se tivermos idéias e conceitos claros e profundos, em suma, convicções, chegaremos a transformá-las em atitudes. Convincere significa “deixar-se vencer por”. Assumir uma convicção é adquirir tamanho apreço por uma idéia que, necessariamente, vai-se lutar por colocá-la em prática.  Por conta disso, Sócrates é acusado de passar, indevidamente, de uma ordem lógica para uma ordem ontológica, ou seja, da idéia para a realidade. Mas seu pensamento está correto, de acordo com minha opinião. Tanto que entramos em crise quando nossas razões são fracas, incapazes de superar as causas motivadoras da queda em crise.
A seguir, veio a corrente platonista. Platão foi discípulo de Sócrates, e um grande venerador da perfeição. Criou o “Mundo das idéias”, que ele afirmava já ter sido habitado pelas almas, antes de caírem neste mundo material, saiba-se lá por qual castigo. Assim, o corpo passou a ser “cárcere” de nosso espírito, algo como um estorvo, cuja única função seria a de nos purificar.
No “Mundo das idéias”, está a essência da perfeição, manifesta sob diversos conceitos. Dessas idéias, existem como que réplicas imperfeitas, no mundo material. Cada ser tem por modelo uma idéia, que o supera de muito. Assim, a busca do melhor seria a volta àquela única realidade verdadeira, inatingível neste mundo de imperfeições e fraquezas. Todo ser humano sente saudades do que já foi e não é mais. De certa forma, essa teoria vai coincidir com a história primigênia do homem, colocado por Deus no paraíso. Platão, entretanto, não poderia desenvolvê-la neste sentido, pois não tinha conhecimento da Revelação divina, concedida como graça ao Povo da promessa.
Todo ser humano tem muitas potencialidades, capacidades, virtualidades, nem sempre desenvolvidas. Cabe, então, à busca da perfeição atuar, fazer aflorar e maturar essas potencialidades, em atos e realizações. Isto nos leva ao pensamento de um dos maiores filósofos da Grécia, discípulo de Platão e mestre de Santo Tomás de Aquino, muitos séculos depois: Aristóteles. Ele nos diz que a perfeição está no colocar em ato qualquer potencialidade existente em nós.
Santo Tomás de Aquino completou essa doutrina, afirmando que o único Ser no qual não existe qualquer potencialidade, sendo, eternamente, Ato Puro, é o próprio Deus. Portanto, aplica ao Deus da Revelação o conceito de Aristóteles, promovendo uma aproximação definitiva entre a Filosofia e a Teologia, que se tornou conhecida como Filosofia Aristotélico-tomista. É a corrente filosófica reconhecida pela Igreja como “Perene”.
Quando entramos no âmbito da Revelação, vemos a história humana como uma constante busca de felicidade, nunca saciada. O ser humano traz em si a intuição de um estado melhor, no qual nossos primeiros pais foram criados, e que todos desejaríamos recuperar. O velho Adão, ou a primeira geração humana, revoltou-se pelo seu desejo de autonomia, de ser igual a Deus, e deixou-se iludir. Caindo na desgraça, fugiu de Deus e experimentou a nudez da miséria e do desamparo. Mas, guardou em si o impulso incoercível de voltar à perfeição paradisíaca ou algo até superior a ela.
Durante séculos, Israel ensinou que a perfeição estaria na prática de toda a Lei mosaica. Porém, conforme alerta São Paulo, na Carta aos Romanos, essa Lei revela as nossas falhas, mas não as corrige. Reconhecemos as nossas quedas, mas não temos força para sair delas. Sabemos o caminho correto, que conduz à perfeição, mas falta-nos o impulso para dar os passos necessários.
Jesus é esse Caminho. Além disso, Ele é que vai nos dar as condições para percorrê-lo. Portanto, sua exigência pode atingir a mais alta expectativa: “Sede perfeitos como vosso Pai dos céus é perfeito” (Mt 5,48). São Paulo aplica isso à vida de Cristo, ensinando que a norma da perfeição é viver como Ele viveu, deixando que seja o Senhor absoluto daquilo que penso, daquilo a que aspiro e daquilo que pretendo realizar: “Para mim o viver é Cristo” (Fl 1,21).
Quanto às obras de Cristo, São Pedro as resumiu, dizendo: “Ele passou fazendo o bem” (At 10,38). O próprio Cristo fala de si mesmo: “Eu faço sempre o que é do agrado de meu Pai” (Jo 8,29). Esta é a norma suprema da busca da perfeição. Temos aí um modelo, um padrão infinito, que não poderíamos atingir nunca. Entretanto, a Palavra do Evangelho nos ilumina sobre a verdade, aquilo que é certo e o que é errado, o porquê de nossos atos. Ainda assim, não basta essa iluminação. É necessária a força da graça divina, fazendo-nos compreender a essência das normas e impulsionando-nos a cumpri-las. É o Espírito de Deus que deve agir em nós.
Santo Agostinho, um dos grandes Doutores da Igreja, afirma que a busca da perfeição tem seu estágio final na conquista da paz. O que é a paz, segundo ele? É a tranqüila ordem. Isto vale para todos os indivíduos, entidades e movimentos que são promotores da paz (cf. Mt 5,9). Quando a sociedade estiver em ordem, em harmonia, somente então teremos paz. Qualquer desordem rouba a paz, a começar da desordem interna do ser. Lá está o primeiro causador, a primeira fonte da carência de paz que, depois, se alastra pelo mundo, contaminando a realidade mais visível e palpável das estruturas e relações sociais.
O Papa Paulo VI fala dessa busca do aperfeiçoamento social, que culmina com a paz, na sua Encíclica Populorum Progressio, cuja Conclusão é encabeçada pela célebre frase: “Desenvolvimento é o novo nome da paz”.
Peçamos a Deus, que a paz reine em nossos corações, para que ela possa reinar no mundo. Que cada um de nós seja propiciador, restaurador de paz, onde ela já não existe, para que nos tornemos beneméritos da própria sociedade e da história. O ideal para todos nós será sempre assemelhar-nos, quanto possível, ao Cristo, Mestre e Senhor: “Dei-vos o exemplo para que, como fiz, assim também façais vós” (Jo 13,15).